Por Jean Michel Damasceno, agente de Formação Cristã da Escola Padre Arrupe, de Teresina (PI), licenciado em Filosofia e graduando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Piauí (Uespi).

A oficina inaciana foi fruto de um processo dialógico e de um planejamento conjunto com as equipes pedagógicas da Escola Padre Arrupe, em Teresina (PI), com o desejo de fortalecer a confluência pastoral–pedagógica e de potencializar situações de corresponsabilidade de todos/as na articulação das iniciativas evangelizadoras, a partir da nossa identidade e de nosso carisma institucional.

O planejamento deste percurso evangelizador foi norteado pela liturgia do tempo quaresmal e principalmente pela proposta da Campanha da Fraternidade 2023, que enfatiza a problemática da fome. Com base nestas reflexões dirigidas, a oficina inaciana foi estruturada de acordo com o paradigma pedagógico de Inácio de Loyola, que se constitui por meio de cinco dimensões: contextualização, experiência, reflexão, ação e avaliação.

A proposta foi pensada a partir de três etapas processuais. O motivo de escolher este caminho nasce da perspectiva de desconstruir, paulatinamente, que a dimensão pastoral não deve ser reduzida a um espaço que tem a responsabilidade de uma determinada equipe, mas de propiciar nos ambientes de planejamento do cotidiano da escola a participação de todos na ação evangelizadora. Recordando as palavras do teólogo Agenor Brighenti, “privilegiar o processo significa privilegiar a participação”.

Na primeira etapa do processo, consideramos os seguintes focos:

  • O diálogo participativo nos espaços de planejamento com os docentes para construir coletivamente a ação pastoral de acordo com as datas organizadas no calendário escolar. Assim, foi possível fortalecer o protagonismo do docente nas ações evangelizadoras.
  • Articular o planejamento da ação respeitando as faixas etárias, os campos de experiências e os objetivos de aprendizagens de cada segmento, pensando o saber como campo do desenvolvimento pastoral. De tal forma, reforçou–se a ideia do Currículo evangelizador.
  • O mapeamento dos horários de cada docente (Horário pedagógico) e a organização dos espaços para o desenvolvimento da atividade, mantendo sempre um diálogo pastoral na rotina das equipes pedagógicas.

Na segunda etapa do processo, abordamos a experiência da proposta com os estudantes, iluminado com o paradigma da pedagogia inaciana. Introduzimos o contexto – explicando e analisando o cartaz da Campanha da Fraternidade 2023 – e contamos com o diálogo colaborativo da nutricionista da escola, que relacionou o cuidado com o alimento escolar paralelo aos dados que foram monitorados ao longo destes meses. Construímos a experiência: os estudantes foram motivados a participar deste momento em grupo, para montar um quebra-cabeça com a imagem da CF 2023. Prosseguimos com a reflexão: os grupos refletiram juntos a realidade da fome a partir dos valores assimilados na atividade proposta. Traçamos a Ação e realizamos a avaliação: com o objetivo de pensar um processo em que os estudantes sejam protagonistas da ação, nesta fase, construímos um questionário avaliativo e diagnóstico sobre como podemos melhorar a rotina de alimentação escolar e como podemos pensar posturas de cuidado com o lanche escolar, para evitar o desperdício de alimentos.

Na terceira etapa do processo, que implicava a continuidade do projeto, enfatizamos a reflexão sobre o monitoramento da ação para acompanhar os resultados projetados na oficina inaciana. Começamos por analisar os dados da pesquisa na reunião da equipe gestora e debater novas perspectivas de hábitos relacionados à estrutura e espaço do lanche escolar, promovendo um “Discernimento institucional”. Também foi preciso elaborar outros espaços de escuta como um colóquio com os docentes a partir do que foi ouvido dos estudantes; a elaboração do Instrumento de monitoramento de registro de desperdício do alimento escolar planejado pela nutricionista da escola.

Portanto, a Escola Padre Arrupe da Rede Jesuíta de Educação, que está situada em  Teresina (PI), em um contexto de vulnerabilidade social, mais uma vez reafirma, em seus processos pedagógicos, um espaço educativo e evangelizador que potencializa a experiência dos valores cristãos na formação integral dos estudantes, confirmando o sentido de sua missão de promover a justiça social e uma fé que está a serviço das realidades que estigmatizam a sociedade atual. Como ambiente favorecedor da experiência eclesial (PEC 112), a oficina inaciana é este processo pedagógico e pastoral comprometido em assumir uma educação humanizadora e libertadora diante de seus desafios.

* Texto publicado na edição nº 15 da Revista de Pastoral da Anec. Disponível em https://anec.org.br/biblioteca/numero-15-as-habilidades-essenciais-de-quem-evangeliza-na-educacao-catolica/