Por Jean Michel Damasceno, agente de Formação Cristã da Escola Padre Arrupe, de Teresina (PI), licenciado em Filosofia e graduando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Piauí (Uespi).
A Escola Padre Arrupe na sua missão de educar e evangelizar considera oportuno o caminho para desenvolver, na convivência diária e a partir de suas diferentes relações, valores que promovam a formação de um sujeito integral. Estabelecendo sempre propostas que visam instigar caminhos de reflexões que buscam sensibilizar para a solidariedade global, a humanização entre os pares, o respeito às diferenças e o compromisso de gestar a consciência da ação coletiva nas diversas situações de aprendizagens.
Como nos é lembrado em nosso Projeto Educativo Comum (PEC), nº 40, “nas Unidades Educativas da Companhia de Jesus, toda a ação educativa converge para formação da pessoa” (REDE JESUITA DE EDUCAÇÃO, p. 39). Formar nos valores humanos, cristãos e inacianos exigem da comunidade escolar essa corresponsabilidade de pensar processos que valorizam as potencialidades das diferenças que constituem este ambiente de aprendizagem integral. Este espaço comprometido em formar a pessoa na sua integralidade, planeja processos inspirados na aprendizagem que valoriza a construção coletiva do conhecimento, a participação e o protagonismo dos estudantes na dinâmica escolar e no incentivo a oportunizar a todos a capacidade de reconhecer o valor da inclusão nesta formação de relações mais afetuosas e cuidadosas com os demais
Assim, a Acolhida Semanal em nosso ambiente formador é um processo de aprendizagem em que os estudantes são estimulados a reconhecer a importância de aprender a conviver com as diferenças que permeiam a relação cotidiana da escola. A metodologia deste caminho da Acolhida Semanal é construída a partir de um diálogo coletivo com a equipe pedagógica, buscando refletir propostas que orientam para uma aprendizagem fundamentada na cultura da solidariedade e da fraternidade. Isso evidencia uma prática educacional ensejada pelo Papa Francisco de “inserir a fraternidade nos processos educativos, como Jesus sugere em sua Mensagem, significa reconhece-la como dado antropológico fundamental, a partir do qual enxertar todas as principais e positivas “gramaticas” da relação: o encontro, a solidariedade, a misericórdia, a generosidade, mas também o diálogo, o confronto, e de modo mais geral, as variegadas formas de reciprocidade” (FRANCISCO, 2020, p.10)
Compreendemos que a Acolhida Semanal é um espaço potencializador de aprendizagens para refletir temas que incentivam nossos estudantes a reconhecer a sua capacidade de superação, de refletir a importância de compartilhar a riqueza das diferenças, de conduzir a um caminho de interioridade e de promover uma cultura do diálogo e do encontro com os demais a partir de suas histórias de vida.
É também propício frisar neste lugar da Acolhida Semanal em que o encontro e o diálogo são duas ações que norteiam a construção deste processo formativo. Destacamos essas perspectivas para dizer que a escola é um local de encontro com as pluralidades e uma incentivadora em constituir diálogos com as diversas visões de mundo que transitam em nossa convivência de aprendizagem. Nossa Acolhida Semanal tem uma estrutura de organização que orienta e assegura a concretização das intencionalidades formativas que são trabalhadas nesta ocasião de vivência de valores. Essa trilha é abalizada em três eixos: encontro coletivo, diálogo reflexivo e o compromisso social. São esses eixos que direcionam o desenvolvimento deste processo em nosso cotidiano de aprendizagem contínuo.
- No eixo encontro coletivo, é o espaço que acolhe as diversas turmas que compõem a convivência escolar. A cada encontro da Acolhida semanal, uma turma condutora é responsável por desenvolver uma ação de acordo com as reflexões que foram discutidas com a equipe de pastoral e a equipe pedagógica, buscando sempre ressaltar propostas que suscitem a construção da aprendizagem pautada nos valores cristãos, humanos e inacianos. Esta etapa fortalece a consciência da comunidade escolar de reconhecer que a educação é sempre esse espaço de relações e interações que buscam orientar para um caminho de aprendizagem coletiva que sustenta a responsabilidade e o cuidado pelo outro.
- No eixo diálogo reflexivo, a turma condutora do encontro da acolhida semanal reflete um tema dialogado previamente com a equipe de pastoral e pedagógica a partir de situações que são importantes para pensar essa cultura do encontro e do diálogo com as diferenças neste processo de aprendizagem coletivo. As temáticas dialogadas nestes encontros buscam ser alinhadas, também, às situações que causam desolação na humanidade e ao papel da aprendizagem na sua transformação social. Isso implica que a turma condutora, sob a orientação do professor, assume a tarefa coletiva de estabelecer uma ação dedicada para o desenvolvimento da prática da pesquisa e da discussão grupal, como uma forma de ocasionar no espaço da acolhida, uma experiência baseada pelo compromisso de partilhar as questões que foram analisadas no espaço de aprendizagem da sala de aula, tendo a consciência comum de que o saber compartilhado é incentivado no cotidiano educativo.
- No eixo compromisso social, existe a responsabilidade coletiva em nosso espaço de convivência a partir do tema direcionado naquela semana. Este compromisso tem a finalidade formativa de estimular as relações pois essa acolhida não é um exercício que acontece somente uma vez por semana, ela é um permanente compromisso ético nas relações de aprendizagem que estamos todos os dias construindo.
É indiscutível olhar para esse caminho e pensar também nas suas implicações no processo formativo. Os resultados alcançados com esse espaço de formação dos nossos estudantes têm se destacado pela responsabilidade coletiva de todos que fazem com que a comunidade escolar se torne um ambiente que incentiva o encontro que reconhece as potencialidades das diferenças, que estimula relações pautados pelo compromisso de partilhar a fraternidade social, de conscientizar para a capacidade de reagir coletivamente, de orientar uma cultura de convivência em que a aprendizagem seja usada para promoção da solidariedade, em que o diálogo educativo se comprometa em formar para uma escuta cuidadosa, respeitosa e ativa com os outros.
Com essa perspectiva de olhar para o ambiente dos processos de aprendizagens, reconhecemos que a cultura do encontro é uma fonte capaz de viabilizar a formação das consciências dos estudantes com o compromisso de que a educação é um caminho que se transforma em pontes e não em muros. Essa visão de reconhecer a aprendizagem como promotora de encontros e de diálogos transformadores integram aquilo que afirma o Papa Francisco “A cultura do encontro constrói pontes e abre janelas para os valores e princípios sagrados que inspiram os outros. Derruba os muros que dividem as pessoas e as mantêm prisioneiras do preconceito, da exclusão ou da indiferença. ” (FRANCISCO, 2020, p. 2).
São estas as contribuições que emergem nos múltiplos espaços de processos de aprendizagens que os nossos estudantes estão suscetíveis a construir. Assimilando que a acolhida é uma prática educativa que encoraja a reconhecer os caminhos que valorizam os diálogos que buscam favorecer a inclusão da diferença na sua visão de mundo sem desmerecer as posições dos outros em vista de uma participação que agrega uma caminhada comum. Como o Papa Francisco ressalta, nesse espectro do diálogo na trilha de uma educação mais acolhedora,
“O diálogo social autêntico pressupõe a capacidade de respeitar o ponto de vista do outro, aceitando como possível que contenha convicções ou interesses legítimos. Deste modo torna-se possível ser sincero, sem dissimular o que acreditamos, nem deixar de dialogar, procurar pontos de contato e sobretudo trabalhar e lutar juntos. ” (FRANCISCO, 2020, p. 23)
Portanto, a Acolhida Semanal proporciona para o ambiente da escola caminhos que guiam a nossa capacidade de pensar possibilidades de encontros de aprendizagens que fortalecem a formação integral dos nossos estudantes, como também viabiliza experiência de encontro com valores que são inegociáveis para o nosso modo de proceder para os dias atuais. É através destas oportunidades de encontros educativos que assumimos a missão de ajudar a formar cidadão competentes, conscientes, compassivos e comprometidos.
REDE JESUÍTA DE EDUCAÇÃO. Projeto Educativo Comum. São Paulo: Rede Jesuíta de Educação, 2021.
FRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti: Carta Encíclica sobre a fraternidade e a amizade social. Brasília: CNBB, 2020.